Trombose e Cancro: a importância da questão

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A doença oncológica altera o normal equilibrio do sistema de coagulação no nosso organismo, desviando-o no sentido “pró-coagulante”. O tromboembolismo venoso (TEV), a manifestação clínica mais frequente, decorrente deste desequilibrio, condiciona a qualidade de vida e as taxas de sobrevivencia dos doentes oncológicos. Sabe-se hoje que o TEV associado ao cancro é cada vez mais prevalente.

Os doentes com cancro possuem um risco relativo de TEV cerca de 4 a 7 vezes superior à população em geral, sendo que a taxa de incidência é de cerca 13 por 1.000 pessoas/ano. De acordo com o Registo Oncológico Nacional (2007), a taxa de incidência de cancro é de 401,5/100.000 habitantes e tem vindo a aumentar, o que está alinhado com o registo de 42.374 novos casos por ano publicado pela Direcção-Geral da Saúde (2013).

O diagnóstico de trombose venosa profunda (TVP) e/ou embolia pulmonar (EP) – as entidades clínicas representativas do TEV – é realizado em cerca de 20% de todos os doentes com cancro.

Por outro lado, o TEV é um fator prognóstico independente de mortalidade. A trombose é a segunda principal causa de morte em doentes com cancro. Os doentes oncológicos com TEV têm uma sobrevida global menor do que aqueles sem TEV que se encontram no mesmo estadio do tumor e sob o mesmo regime terapeutico.

Para além destes aspetos, ao sofrerem um evento de TEV os doentes com cancro apresentam quer um risco aumentado de recorrência, quer também de complicações hemorrágicas, o que leva a maiores índices de morbi-mortalidade e também taxas elevadas de consumo de recursos de saúde.

Os doentes oncológicos têm, frequentemente, uma variedade de fatores de risco para sofrerem um evento tromboembólico, relacionados com o próprio doente (ex. idade, trombofilia, obesidade, TEV prévio), com o tumor (ex. local primário, histologia, estadio, existência de metástases, etc.) e/ou com o tratamento (ex. cirurgia, quimioterapia, agentes anti-angiogénicos, entre outros).

Cada vez mais existe nos profissionais de saúde uma consciencialização acerca do impacto das complicações trombóticas na qualidade de vida dos seus doentes. Contudo, a sub-utilização de profilaxia do TEV representa um problema clínico relevante, sendo que o uso de profilaxia adequada é ainda menos frequente nos doentes com cancro. Portanto, a prevenção e tratamento de TEV em doentes oncológicos constituem grandes desafios na prática clínica diária.

O Grupo de Estudos de Cancro e Trombose (GESCAT), com a colaboração de especialistas de várias áreas, elaborou as Recomendações Portuguesas para a Profilaxia e Tratamento do Tromboembolismo Venoso (TEV) no Doente Oncológico, de acordo com as normas internacionais. Estas recomendações devem ser entendidas como um contributo para a boa prática clínica que podem e devem ser adaptadas à realidade do doente e da instituição.

O TEV e o cancro constituem um problema importante em saúde pública, que se prevê tornar ainda mais relevante no futuro, pelo que se impõe uma reflexão sobre a forma de o abordar, em termos clínicos e económicos.